Quem nunca se percebeu, de repente, cantarolando – mentalmente ou em alto som, se preferir – uma música que traduzia exatamente o que sentia naquele instante? Ou teve uma ideia brilhante enquanto ouvia o seu álbum favorito, e que provavelmente se perdeu porque você não tinha à mão um bloco de notas? Quantas vezes as canções não são capazes de amplificar ou transformar um sentimento de alegria, de tristeza ou de coragem, a ponto de levar as pessoas a tomarem decisões cruciais de vida?
A influência da música na emoção das pessoas é algo tão marcante que, até mesmo antes de surgir o cinema falado, os filmes já eram projetados para a plateia com música executada ao vivo. Hoje, já alcançamos a noção de que um filme não é o mesmo se trocamos a sua trilha sonora. Que o diga Quentin Tarantino, diretor ovacionado por suas combinações matadoras de Ennio Morricone, Ray Charles e Elmer Bernstein, que chega a criar cenas para seus filmes a partir de achados do seu acervo pessoal.
Estamos provavelmente longe dessa verve compositora e definitivamente não pretendemos elevar as emoções a tal extremo no auge da rotina, mas será que poderíamos explorar melhor as possibilidades da trilha musical em nosso cotidiano de trabalho? Se você é mais um que se percebe atraído pelo fone de ouvido toda vez que o colega ao lado começa a falar no telefone como se o interlocutor estivesse em meio a uma torcida de futebol, a resposta é sim.
Segundo as autoras do livro Your Playlist Can Change Your Life (ainda sem tradução em português), isso não significa que Mozart fará de você um gênio, mas a música tem um impacto profundo na química do cérebro. “Depois dos cheiros, a música é o jeito mais rápido e eficaz de influenciar e restaurar as suas redes cerebrais sem recorrer a substâncias externas.”E isso acontece porque sons melódicos estimulam a liberação de dopamina, substância que transmite a sensação de prazer e regula a nossa motivação para agir.
Além de ajudá-lo a recuperar o foco e realizar melhor suas atividades, acessar uma boa trilha sonora pode contribuir também na hora de encontrar soluções e tomar decisões.Como afirmou a pesquisadora de musicoterapia Teresa Lesiuk, da Universidade de Miami, em matéria publicada no New York Times, quando está sob efeito de estresse, a pessoa fica com a atenção restrita. Já em um estado positivo, torna-se capaz de considerar mais opções. A psicóloga Barbara Fredrickson complementa: emoções positivas levam a uma melhor visão periférica e ajudam a estabelecer mais facilmente conexões entre as ideias.
Antes de colocar em prática, vale levar em conta as dicas da reportagem do Daily Muse: em primeiro lugar, faça uma lista das músicas que você realmente gosta, pois, quando se trata de gosto, a seleção que surte efeito positivo para uma pessoa pode ser totalmente perturbadora para outra. Depois, observe o efeito de cada tipo de música no seu fluxo de trabalho. Assim, você pode voltar às mesmas opções quando quiser obter o mesmo resultado. Por último, reserve alguns momentos para descobrir coisas novas e experimentar novas possibilidades.
Ampliando a experiência
Para o sueco Alexander Ljung, CEO do SoundCloud, plataforma de compartilhamento de música na nuvem, como o som é algo “fundamental para a vida humana”, as possibilidades de explorá-lo são infinitas. “Mantemos o foco repetindo para nós mesmos que o som é relevante para cada pessoa, cada empresa, cada organização”, afirmou Ljung em entrevista à revista Forbes. A própria existência do SoundCloud comprova que ele está certo. Ao mesmo tempo, percebeu na prática que criar uma rede social de áudio não é tão simples, pois, assim como muitas grandes ideias, esta é uma experiência sensorial e, portanto, menos tangível.
De qualquer forma, impulsionada pela integração com o Facebook e o Twitter, a ferramenta, que foi criada em 2008 com 20 mil usuários, conta hoje com 38 milhões de usuários registrados, espalhados por mais de 200 países, que, em seu total, compartilham no site mais de 10 horas de música por minuto.
Outros projetos, menores mas não menos curiosos, estão surgindo em torno dessa premissa. O Rednote, como divulgou o portal Springwise, é um serviço que permite aos usuários de smartphones anexarem clipes musicais a suas mensagens, tweets ou e-mails. O usuário faz a seleção a partir de um acervo de músicas pop e clássicas, categorizadas pelo “estado de espírito”, como romântico ou triste (“feeling blue”, na definição original). O intuito é que os clipes musicais ajudem atransmitir uma emoção mais exata do que as palavras, e, especialmente para os menos eloquentes, evitar mal-entendidos.
O aplicativo japonês Mico, por sua vez, é uma espécie de fone de ouvido que monitora as ondas cerebrais do usuário (por meio de sensores que detectam a atividade neurológica) e seleciona a música de acordo com seu estado de espírito. Como explica a matéria do Springwise, a emoção transmitida pela pessoa é usada para selecionar a música mais adequada a partir de uma biblioteca de músicas, dividida em três “humores”: concentrado, sonolento e estressado. É uma forma de livrar os ouvintes de ficarem procurando, entre milhares de opções, uma música que se adapte ao seu clima.
Não podemos prever se essas iniciativas continuarão a ter êxito com os aficionados da música, mas de uma coisa estamos certos: sua capacidade de alcance, como tem experimentado a empresa de Alexander Ljung, é tão grande quanto a humanidade estiver conectada.
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FONTE: CorpTV
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