quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A perda de relevância do Twitter no Brasil

Por Juliano Spyer

Há três anos eu escrevi e publiquei em formato digital (CLIQUE E VEJA AQUI), com o apoio luxuoso do Marcelo Tas, um dos primeiros manuais em português sobre como pessoas e negócios poderiam usar e tirar proveito do Twitter.

Mas desde praticamente aquela época a minha dedicação a essa ferramenta vem caindo a ponto de ela ter hoje uma função específica e limitada na minha vida. Esse post é uma tentativa de entender e racionalizar o motivo dessa mudança.

Na mesma época do lançamento do manual do Twitter, Mark Zuckerberg esteve no Brasil e a assessoria de imprensa do Facebook convidou alguns blogueiros para papear com ele. Estive no evento – aqui a “prova” – e a única coisa que eu me lembro de ter perguntado a ele – e com jeitinho – era se o Facebook pretendia adotar um funcionamento parecido com o do Twitter. Porque para mim era claro que o Twitter era o supra-sumo da comunicação digital e portanto o adversário do Facebook no Brasil era o decadente Orkut, nunca o Twitter – aqui o meu post. Zuckerberg respondeu que não e hoje eu vejo que a escolha foi acertada.

No manual, eu comparava o Twitter a uma praça pública (onde todo mundo está junto) enquanto o Facebook era uma espécie de condomínio (porque há um limite físico imposto para as pessoas se encontrarem). O problema principal do Twitter é que, no final das contas, a gente precisa mais de um teto do que de uma praça. Mas como isso é mais uma frase de efeito do que uma resposta, vou apresentar os meus argumentos pessoais para estar usando o Facebook cada vez mais e de forma mais intensa.

Estar onde as pessoas estão
No Twitter estão a maior parte das pessoas ativas no meu campo de atuação. Mas elas também estão no Facebook, junto com todo o resto de pessoas conhecidas minhas que não se sentiram motivadas para abrir uma conta no Twitter. Eu tenho hoje 41 anos e a maior parte dos meus colegas de escola ou de faculdade usam o Facebook regularmente. E junto com eles, várias pessoas bem mais velhas, inclusive octogenárias, que abraçaram essa ferramenta com o mesmo (ou maior) fervor que dedicamos ao Twitter quando ele apareceu.

Quem lê tanta notícia?
O Twitter é um ótimo filtro de conteúdo, principalmente (para mim) para notícias relacionadas às novidades tecnológicas provenientes do Vale do Silício, a Meca da nossa indústria. O problema em relaçao a isso é que eu já tenho coisas demais para ler e prestar atençao e o Twitter amplifica a minha frustração em relaçao à minha incapacidade de estar por dentro de tudo. É interessante que não me sinto menos informado se eu escolho ignorar essa catarata de conteúdo. (Mas, por via das dúvidas, estou usando dois serviços – tipo este do próprio Twitter – que me mandam por e-mail o conteúdo que mais circulou entre as pessoas que eu sigo.)

Ter menos auto-censura
Uma parte importante para mim, pelo menos, em relaçao ao Twitter, era falar com uma parcela relativamente pequena de pessoas que eu conheço pessoalmente e com as quais eu me identifico. O problema é que, na medida em que a gente cultiva uma audiência, passa a se preocupar com o que “as outras pessoas vão pensar” se eu disser isso ou aquilo. A minha voz sempre alcançou relativamente pouca gente, mas, ao mesmo tempo, eu me vi “corporatificando” esse canal. Se eu quisesse falar qualquer coisa mais pessoal ou tola, acabava me censurando. O Facebook tem uma solução melhor acabada para resolver essa questão. Falo com públicos diferentes definindo blocos de contatos diferentes tipo “melhores amigos”, “família”, etc. (Está longe de ser ideal, mas, até onde eu entendo, é sensivelmente melhor do que o Twitter nesse quesito.)

Independente do motivo, tenho ouvido cada vez mais recorrentemente, em conversas com outros profissionais desse mercado, sobre a perda da relevância do Twitter. Dizem que as pessoas estão seguindo mais gente e prestando cada vez menos atençao na conversa. E isso representa um problema sério porque, até onde eu sei, o “feijão-com-arroz” do monitoramento de internet hoje se limita a ver o que as pessoas estão falando no Twitter.

Isso é feito com maior ou menor sofisticação, mas é feito fundamentalmente porque a conversa via Twitter é pública, o que não é verdade para o Facebook.

Só o Facebook tem acesso real a tudo o que está acontecendo lá dentro e o tema dos direitos de uso (quem pode fazer o que com as informações compartilhadas) é um assunto delicado para a empresa. Me lembro de duas situações em que a empresa levou a cabo modificações nesse documento e, por causa disso, teve que gerenciar crises por conta da revolta de usuários preocupados com sua privacidade.

Traduzindo: o “tesouro” das conversas que a sociedade tem consigo mesma está de mudança de uma savana onde tudo é mais ou menos visível para um pântano com vegetação densa. Já não vai dar para vender qualquer coisa que preste por qualquer dinheiro nesse campo do monitoramento. O jogo mudou de fase e a dificuldade aumentou.

E mesmo o que era a outra grande vantagem do Twitter – a possibilidade de se falar com públicos vastos – já está satisfatoriamente resolvida com o serviço de páginas do Facebook.

Para onde estamos indo
Pessoalmente acho que o Facebook seja uma plataforma de comunicação mais completa do que o Twitter, que ficou em segundo plano. Não estou sugerindo com isso que o Twitter vá desaparecer ou que já não tem utilidade para o mercado. Ele continua sendo importante para pessoas importantes, grandes formadores de opinião que estabeleceram uma relação de sinergia com suas audiências. Eles não deverão abandonar essa plataforma tendo conquistado ali o status de serviço de informação.

Essas personalidades inverteram o jogo da mídia: em vez de dependerem dos veículos para falar publicamente, agora são os veículos que disputam suas declarações pelo Twitter. Fora que, diferente da página do Facebook, o perfil no Twitter dá a impressão (que pode ser mais ou menos verdadeira) de se estar próximo ou mais próximo aos nossos ídolos. A página do Facebook ainda tem aquele cheirinho de plástico e produto de limpeza das corporações. Lá continuamos com a sensação de sermos mais um na multidão.

A minha principal conclusão sobre esse assunto é meio óbvia, mas talvez importante de ser dita publicamente: há uma oportunidade de negócios esperando quem encontrar modelos de monitoramento para extrair valor da informação que circula no Facebook.

E o interessante é que a solução para isso provavelmente será menos tecnológica e mais metodológica. Terá a ver com estar de fato presente na ferramenta e atuando na vida das pessoas – ao contrário de antes, quando esse monitoramento consistia em se ter acesso a certos serviços e ficar como um voyeour observando a vida a distância.

FONTE: CorpTV

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